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Ressurgência

Ressurgência

“Enfim chegamos!” Uma afirmação tão banal utilizada regularmente,porém sem darmos atenção ao seu sentido físico e metafórico. Quantos de nós realmente sentimos “o chegar”? Coloco essa questão pois, ao meu ver, levamos algum tempo nos direcionando e, sem muita ambição, realmente não sabemos ainda aonde. A maior parte de nós simplesmente vai. Fácil seria associar toda a angústia do ocorrido no mundo atualmente para justificar uma necessidade de alcançarmos um objetivo qualquer e,aliviados, suspirar. Mais complicado, no entanto, é atentarmos aos fatos reais, olhando para todo nosso caminho traçado e entender onde finalmente ansiamos por chegar. Como já dizia meu avô: “O melhor da festa é esperar por ela”. Pois bem, antes de atingir qualquer marco final acredito que deveríamos perceber com carinho e cautela cada passo do que vivemos, exaltar os bons momentos, comemorar sempre, sentir nossa existência na completude, ainda que doa, ainda que chore. Outro dia ouvi alguém dizer que sofremos mais do que sorrimos nessa vida. Não seria essa uma questão de escolha afinal? Quem de nós não perdeu alguém? Quantos de nós chegamos até aqui sem ao menos uma ferida por cicatrizar? E, por fim, mas não menos importante, até quando carregamos nosso luto?

Ao contabilizar perdas, naturalmente assumimos uma posição arredia, atentamos a não mais abrir a guarda para sentimentos nobres como o amor, ternura, carinho. Não me refiro apenas às relações íntimas, mas também profissionais e sociais como um todo. Ao longo dos anos parecemos nos tornar frios diante das fatalidades pois “são coisas da vida”. Ao perder algo ou alguém somos condicionados instintivamente a enfrentar e superar. Aprendemos a mascarar as dores, engolir o choro, extravasar apenas quando ninguém estiver olhando ou nublar nossa frustração em formas adversas à dor real. Assim mergulhamos em padrões autodestrutivos sem nem mesmo perceber, afundando nosso espírito em uma contínua espiral de emoções cada dia mais espessa e densa, tendendo a se tornar maciçamente inquebrável. Está construída então a famosa muralha que nos protege do mundo... e que, igualmente, nos impede de visualizar a extensão daquilo que podemos vir a ser.

Acabamos de chegar e já ansiamos por afastar de nós os maiores prazeres por puro medo de correr riscos. Reprimimos pessoas, negamos nos conectar ainda que a intuição grite a plenos pulmões para aceitarmos toda a estranheza de uma nova experiência. Somos distantes e rudes. Tudo porque teoricamente seria o melhor a ser feito em prol “do nosso bem”...que grande bobagem. Fruto do ego guardado com muito afinco ali bem na boca do estômago. A necessidade de aprovação e autoafirmação só cresce, dando espaço ao amargor, permitindo cairmos em armadilhas convenientes. Deixemos de lado tanto tempo perdido com autocrítica para agradar pessoas que genuinamente sequer nos querem bem. Olhemos com mais carinho ao conjunto de regras que impomos às nossas atitudes e pensamentos para que ambas consciências, individuais e coletivas, sejam benquistas e satisfatoriamente contentadas.

Apesar de toda a reflexão, o ponto principal de se percorrer toda uma jornada, seja de devoção ou omissão, acaba por nos conduzir a um só propósito: acreditar no imponderável, aquilo sob o que não se tem o mínimo controle, senão a certeza da fé. Olhar para dentro e perceber-nos cheios de defeitos, mas ainda assim merecedores de alegria. Porque é quando assumimos nossas falhas, medos e apreensões que nos é concedida a habilidade de evoluir e mudar o que tanto incomoda dentro de nós.Quando nos percebemos vulneráveis diante de uma situação é que o corpo reage e a mente amplia sua carga energética acelerando as sinapses, dando espaço à sutileza do Superior. Firmando assim essa comunhão, o espírito enaltece a certeza de sermos únicos.

Ressurgir é sinônimo de recomeçar e, do contrário que se imagina, essa chance temos sempre que a alma pede conforto. Eis então nossa epopeia comum. Absolutamente todos, de alguma forma, sentimos a força dessa passagem nos últimos dois anos e urgimos por mudanças, aconchego, alívio desse duradouro luto. Podemos renascer quantas vezes forem necessárias desde que nosso coração acompanhe o processo abertamente e esteja de acordo com essa decisão. O brotar será então inteiro, completo e exclusivo. O julgamento verdadeiramente importante será interno, do nosso olhar à consciência, sem palavras duras alheias que possam interferir na sinceridade do momento. Quanto à ilusão de se estar ganhando ou perdendo, esta será resgatada lá no final do caminho espiritualmente percorrido. As dores e agonias sempre serão mais nossas do que de qualquer pessoa à nossa volta, por mais íntima e próxima que seja ela. Carregar um fardo não deve ser sinônimo de vergonha ou martírio, pelo contrário, é resultado de uma luta árdua e muitas vezes infinita, que acontece nos instantes de calmaria quando a mente descansa da correria do dia a dia. Não, não é vergonhoso sofrer ou chorar, triste é não abraçar a sinceridade dessas emoções e construir a base sólida para sua fortaleza de sentimentos. Saber-se vulnerável é criar um laço inquebrável consigo, um vínculo que sempre estará ali para recordá-lo de sua imensidão.

No dia em que descobri essa metáfora eu estava viajando a trabalho. Estar em um navio literalmente em meio ao oceano, acompanhada de 92 pessoas que apenas sabiam meu nome foi uma experiência tremendamente desconfortável e assustadora. Era o sétimo dia de cruzeiro quando nos assolou a tempestade. Certamente eu não fui a única a acreditar que ali se terminava tudo. As imensas ondas ensurdecedoras e, ao mesmo tempo, lindamente imponentes não nos deram outra alternativa se não acreditar em algo maior. E assim, como após toda tormenta, veio o dia seguinte clareando o céu carregado, acalmando as intempéries,especialmente a interna. Aquele foi meu primeiro renascer verdadeiro,em meio ao mar bravio que se acalmava, o resquício de brisa me dizia que ali estava a primeira página em branco do meu novo livro. A ondulação relutante sussurrava que eu sempre poderia (e de tempos em tempos até deveria) folhear minha história anterior para nunca esquecer as raízes que me sustentaram durante a borrasca. O horizonte limpava-se abrindo espaço para novos encontros e aprendizados. Não foi aquele episódio que me havia partido a alma, a dor ocorreu meses antes, porém a turbulência daquele momento colocou muitos pedaços de volta em seu lugar. Digo-lhes que nunca ficou mais fácil, apenas tornei-me mais resiliente, mais realista e receptiva às minhas realidades. A palavra ressaltada então foi consciência; quanto às atitudes, comportamento e principalmente reação aos êxitos e adversidades. Eis então a verdade: “O luto foi tão grande que quase o confundo com meu lar”. Verso de uma das minhas bandas preferidas e que guarda grande parte da minha história. Fica sendo praticamente desnecessário explicar o significado dessa frase de tanta profundidade que ela contém. Nela encontrei e enfrentei a minha verdade que se arrastava por tanto tempo. Decidi que até ali chegariam minhas correntes e que o peso do meu passado já extrapolava o que eu me permitia carregar dali pra frente.

Quebrar a escuridão através do amor, seja ele próprio ou compartilhado, é uma saída. Talvez não a única, mas certamente uma das mais leves e bonitas. Não digo que tudo foram flores, vieram muitas, muitas tormentas depois daquele navio. Mas a âncora deixou sua marca, as sombras existem e devem ser exploradas para que não ganhem força sobre a luz. Se o momento não pedir iluminação está tudo bem, existe um misterioso equilíbrio no crepúsculo também. Mas não apenas de derrotas existimos, sempre haverá um sorriso, uma palavra, um abraço que nos levante da queda. Sempre haverá um renascer pelos dias que ainda nos restam para definitivamente irmos.Temos tantas fases de desenvolvimento fisiológico durante nosso ciclo de vida, nascemos, crescemos e ressurgimos a cada crise. Agora talvez tenha se aproximado o momento de aprendermos também a amadurecer nossas relações, nutrir nossos sentimentos e evoluir como seres humanos. É isso que nos faz grande e que realmente nos faz chegar a algum lugar.

 

Flavia Delcourt é formada em ciências, PHD em física aplicada, professora de Yoga e fundadora do Lila Yoga Shala.

Saiba mais sobre o trabalho da Flavia, acessando o link: https://instagram.com/yogashala.lila?utm_medium=copy_link 

 

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